terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Herança de rodas e avenidas, cenário do samba é tradição em Juiz de Fora

Rafael Donizete

Berço de consagrados músicos como Geraldo Pereira e Armando Fernandes, o Mamão, o município de Juiz de Fora guarda na história nomes de grandes talentos da música que incentivam e influenciam novas gerações. Na próxima terça-feira (2) é comemorado em todo o país o Dia Nacional do Samba, data simbólica para celebrar a música no Brasil. E em Juiz de Fora, os sambistas fazem a festa o ano todo, mas aproveitam a data especial para celebrar o ritmo dos bambas. Alguns desses sambistas se reúnem neste domingo (30) no Cultural Bar em celebração ao ritmo.
Feito para dançar, sorrir ou, com as melhores letras, até mesmo chorar, o samba veio pra ficar. Essa é uma certeza destacada pelos talentos que representam o som em Juiz de Fora. Com harmonia, o samba chegou às avenidas da cidade em 1934, consequente à fundação da Turunas do Riachuelo, a primeira escola de samba de Minas Gerais e a quarta em atividade no país. O nome foi inspirado em um evento semanal do Rio de Janeiro que despertou a paixão do cantor, sambista e compositor Armando Toschi, o Ministrinho, que, junto aos irmãos, fundaram a agremiação.
Ministrinho Carnaval 1946 JF (Foto: Cezira Toschi/ Arquivo Pessoal)Ministrinho (à direita) pela Escola Turunas do Riachuelo em 1946 (Foto: Cezira Toschi/ Arquivo Pessoal)
Em 2014, ano em que Ministrinho completaria 100 anos, o carnaval juiz-forano ganhou um ritmo especial para homenagear o artista. História do samba na cidade, ele foi tema no Concurso de Marchinhas e no Bloco do Mestre, tema de um Chá com Poesia e de exposições no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM). O compositor também foi assunto em um documentário do cineasta Marcos Pimentel e de um CD do grupo de samba Quarteto Visceral.
Sambistas de Juiz de Fora (Foto: Felipe Menicucci/G1)Sambistas se reúnem em gravação do MGTV que
vai ao ar na terça (2) (Foto: Felipe Menicucci/G1)
Amado Toschi e Nilton Santos, o Mestre Cocada, nascido em São João Nepomuceno, e tradição em rodas de Juiz de Fora, se tornaram inspiração para sambistas que atualmente apoiam novas gerações do samba na cidade.
Com aproximadamente 50 anos de carreira, o compositor e intérprete José Almada Moreira, popular na cidade como Zezé do Pandeiro, contou que incentivar novos talentos é o que vai sustentar a história do samba em Juiz de Fora. “Fico satisfeito em ver que hoje sambas que compomos nas décadas de 70 e 80 ainda são cantados em rodas de bares e até mesmo interpretados por artistas da nova geração em shows pela cidade. É lindo ver esse resgate do samba de raiz que ainda vive pelas ruas com força e viram tradição”, falou.

Zezé explicou que o samba na cidade tem sido bem representado e este foi repassado de geração à geração, como os versos do juiz-forano Mamão. Composições do músico se tornaram sucesso por todo o Brasil nas vozes de renomeados sambistas nacionais. Uma das mais famosas do músico, “Tristeza Pé no Chão”, composta em 1973 e gravada por Clara Nunes, emocionou diversas rodas de samba pelo país.
Mamão e Os Bacharéis do Samba se apresentam em Juiz de Fora (Foto: Divulgação/Divulgação)De Juiz de Fora, Mamão compôs "Tristeza Pé no Chão", sucesso em todo país (Foto: Divulgação/Divulgação)
Ainda segundo Zezé do Pandeiro, mesmo sendo bem próximo ao samba carioca, devido à aproximação de Juiz de Fora ao Rio de Janeiro, o samba local se difere pelas composições. “O samba juiz-forano é composto com poesias e as letras ficam mais bonitas. No Rio de Janeiro, onde tem um samba incomparável, as letras são feitas em melodias e se tornam um som mais dançante que se destaca no cenário nacional. Em cada região o samba tem um diferencial, mas em Juiz de Fora a força é gratificante”, analisou o intérprete que tem grande participação no carnaval da cidade.
Mesmo vivido nos anos dourados da passarela juiz-forana, Zezé indicou fatores que precisam melhorar para contribuir com o carnaval local. “Eu vive bons anos do carnaval de escolas de samba em Juiz de Fora. Mas atualmente ele precisa de mais apoio da cidade e de uma renovação. Por outro lado, sei que o carnaval de rua ganha muita força a cada ano que passa e o público na cidade aceita cada vez mais esse gênero”, ressaltou.
Samba Roger Resende Juiz de Fora (Foto: Fabi Cruz/Divulgação)Roger Resende se apresenta em rodas da cidade
(Foto: Fabi Cruz/Divulgação)
Para manter o samba na cidade é preciso de dedicação e talento. Nesse quesito, os sambistas de Juiz de Fora não decepcionam.
O músico e compositor Roger Resende, fiel a rodas de samba realizadas em casas de shows e eventos na cidade, relatou que a força dessas apresentações no município é devido à aceitação do público com o repertório musical. "Hoje em dia a gente faz um trabalho para valorizar o samba local e fideliza-lo na cidade. Aqui em Juiz de Fora tem samba quase todo dia. Nas rodas de samba toca de todos os estilos, sempre mesclando os tipos de samba, trazendo desde os antigos clássicos nacionais até os contemporâneos. Essas rodas têm sido cada vez mais frequentadas. E o bom do samba é que não tem essa seleção de faixa etária, é claro dependendo do horário, mas o fato é que o público se propaga. O samba cativa todo mundo, que cai na graça. Por mais que seja só uma linguagem, existem várias maneiras de cantar", falou Roger, artista que tem mais de dez anos de carreira com o samba no município.
O músico se apresenta toda terça-feira em um bar da cidade e, segundo ele, os shows da "Terça Nobre" são compostos por sambas mais intimistas, onde recebem um público voltado para o happy hour com melodias tocadas através de apenas um violão e um pandeiro.
Em "Samba da Benção", Vinícius de Moraes deixou claro que fazer um samba não é contar piada. Entendida do assunto, Sandra Portella, uma das vozes que mais representa o gênero musical em Juiz de Fora, dedica cerca de dez anos em uma carreira de valorização local. Influenciada pelo samba carioca, é comum associar a cantora ao bom samba na cidade. "Minha mãe vai ser sempre a minha grande influência. Entrei para o samba bem envolvida através da minha comunidade, o Bairro Furtado de Menezes. Hoje, a gente canta sim com influências de outros artistas, mas também temos nossa personalidade própria", falou Portella. 

A artista que no início de novembrou lotou o Cine Theatro Central com um repertório em que 90% era de composições locais, ela explicou que acredita na evolução do samba na cidade e no sucesso de novas gerações. "Em Juiz de Fora se você tem voz e canta bem o povo sabe te valorizar. Foi assim comigo e hoje o público chega a sentir minha falta em fazer shows na cidade. É claro que ainda vão surgir novos talentos, isso é o que a gente quer, mas tem que haver um respeito com a origem da música local", comentou Sandra.
Festival de Samba e Petiscos recebem inscrições até terça-feira  (Foto: Marina Costa/Divulgação)Sandra leva o samba do morro ao asfalto de Juiz de Fora e região (Foto: Marina Costa/Divulgação)
De todos que falam da história do samba em Juiz de Fora, a herança de talento e a influência de grandes nomes da música brasileira é dastaque. A expansão de sambistas juiz-foranos em cenário nacional não basta apenas nos compositores de sucesso. O The Voice Brasil, em segunda edição, exibido na Rede Globo, recebeu a cantora Alessandra Crispin que se tornou um sucesso de revelação em Juiz de Fora e em alguns palcos do Brasil.  "Comecei ouvindo sambistas nacionais como Cartola, Noel Rosa, Beth Carvalho e outros. Mas também tive influências do samba local, como Carlos Fernando e Roger Resende que me apoiaram muito durante a carreira", falou.
Ela acredita que a fidelidade do público com o samba é o que motiva os artistas a subirem no palco. "Além da tradição, a força do samba na cidade vem da fidelidade do público. Eu acho que esse carinho é devido ao fato de Juiz de Fora ser próxima do Rio de Janeiro e, assim, o samba parece ser recebido com o mesmo gosto, sendo do morro ou do asfalto. E a gente que canta vê nos rostos do público que eles estão gostando, isso motiva para não deixar o samba morrer", analisou.
Alessandra Crispin Tira-Teima 2 (Foto: Fabiano Battaglin /TV Globo)Alessandra levou o samba de Juiz de Fora à edição
do The Voice (Foto: Fabiano Battaglin /TV Globo)
Evento neste domingo
Alessandra Crispin, que já conta com a turnê "Samba Fino" na carreira, comanda um show comemorativo ao samba na tarde deste domingo (30).
O evento, com um toque da Música Popular Brasileira (MPB), será realizado no Cultural Bar, onde a artista divide o palco com outros nomes do samba, Thiago Miranda, talento também de Juiz de Fora; e Amanda Amado, do Rio de Janeiro, que também participou do The Voice Brasil. "Eu tenho influência africanas e refino na apresentação. Também canto sucessos da MPB, mas cerca de 95% do meu show são de puro samba. Não faltam clássicos da Jovelina Pérola Negra, João Nogueira, Chico Buarque, Beth Carvalho e todos que representam o samba de fundo de quintal", contou Alessandra sobre um pouco do que ela vai apresentar a partir das 16h, na casa de show localizada na Avenida Deusdedit Salgado, no Bairro Salvaterra.
Entre idas e vindas de talentos e poesias, Juiz de Fora é terra de samba e leva na bagagem a história escrita por grandes nomes que são cantados de fevereiro a fevereiro. E assim, Flavinho da Juventude, Joãozinho da Percussão, Carlos Fernando Cunha, Paulinho Jalão, Dudu Costa e outros nomes que correm as rodas de samba e são destaques em blocos tradicionais de carnaval na cidade deixam marcas e viram e a identidade do município.
http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2014/11/heranca-de-rodas-e-avenidas-cenario-do-samba-e-tradicao-em-juiz-de-fora.html

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