segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Ex-oficial do Exército, empresário conta como criou a fábrica do Guaravita


O “comandante”, como é chamado pelos funcionários, mostra a fábrica no bairro Gardênia Azul
O “comandante”, como é chamado pelos funcionários, mostra a fábrica no bairro Gardênia Azul Foto: Thiago Lontra / Extra
Rafaella Barros


Por trás da bebida que há 16 anos caiu no gosto do carioca e inspirou até um funk está Neville Proa, um ex-oficial do Exército que comanda, diariamente, a Viton 44 — fábrica do Guaravita e do Guaraviton. O tijucano, que não revela a idade, abre uma série de entrevistas que o EXTRA publicará aos domingos, para mostrar quem são os empreendedores que criaram produtos e serviços que são a cara da nova classe média fluminense. Neville conta como surgiu a fábrica de 45 mil metros quadrados, em Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio, que hoje produz 1,44 milhão de copos de Guaravita e 300 mil garrafas de Guaraviton por dia.

Como surgiu a ideia de lançar o Guaravita?
Eu tenho que falar sobre a minha vida antes, porque não recebi nada de herança. Tudo fui eu que montei. Fui oficial do Exército. Fiz Academia Militar das Agulhas Negras e saí oficial. Em 1984, deixei o Exército e fui fazer minhas andanças por aí. Em 1989, meu primeiro negócio foi montar um estande de tiros fechado, o primeiro autorizado pelo Ministério do Exército, no Brasil. Tive vários alunos. Depois que fechei o estande, devido a uma série de problemas com bandidos que queriam fazer escola de tiros, veio a ideia de montar a fábrica, em 1998. Eu fui atleta pelo Exército. Fora do país, nós só tomávamos bebidas isotônicas, que aqui no Brasil nem existiam. Eu sempre pensei que todo atleta tinha que beber essa bebida isotônica. Daí, surgiu a ideia de bebidas, mas não isotônicas, porque os atletas daqui teriam que se reeducar para beber isotônicos (na época). Aí, pensei nas bebidas que as pessoas mais gostam aqui: o guaraná. Depois, a laranja. Depois, a uva. Entrei nesse metiê de fazer uma bebida boa e barata, para atingir as classes sociais mais numerosas do Rio, que são as classes C, D, E, F, G, H... e por aí vai.

Você quis, então, criar algo diferente do refrigerante?
Toda bebida gaseificada faz mal à saúde. Eu parti para as bebidas naturais. Com isso, eu ganhei um grande mercado, fazendo propaganda de bebidas naturais. Começamos com o Guaravita. Depois, passamos para o Guaraviton. Também temos outras, mas não vou nem falar porque é muita coisa. Nosso carro-chefe continua sendo o Guaravita. Em um mês, fabricamos 35 milhões de copos.

Foi o senhor quem teve a ideia do nome?
Tudo. Nome, apresentação, rótulo. Tudo fui eu que fiz. E continuo fazendo. De todos os outros (produtos) também. A criação foi toda minha.

Houve algum momento de dificuldade na história da fábrica de bebidas?
O que houve foi agora, durante a Copa do Mundo, que, para mim, foi péssima. Foi feriado no Rio de Janeiro. Quando tinha jogo do Brasil, o pessoal (os trabalhadores) faltava. Isso desequilibra qualquer fábrica.

Neville percorre a fábrica, diariamente, em um carro de golfe
Neville percorre a fábrica, diariamente, em um carro de golfe Foto: Thiago Lontra / Extra
Hoje, a fábrica conta com quantos funcionários?
Setecentos e cinquenta. Todos trabalhando aqui. A fábrica é grande. Tem 45 mil metros quadrados.

Quando o senhor teve a ideia da fábrica, em 1998, como fez para montar o negócio? Contratou algum químico?
O que eu fiz foi localizar o pessoal que trabalha com bebidas para saber que tipos de máquinas eu poderia usar. Na época, eu tinha algum capital (para comprar os equipamentos). Vi várias fábricas funcionando. E trouxe para cá uma pessoa que entendia bem de maquinário. Essa pessoa saiu da empresa, depois. Mas esse foi o primeiro pulo. Tive que ter um professor para (aprender sobre) a produção de bebidas.

Essa pessoa foi contratada para criar a fórmula da bebida?
Não. A fórmula foi um fabricante de aromas quem me passou. Veio da empresa Duas Rodas, que fica no Estado de Santa Catarina.

O senhor foi até lá ou eles vieram implantar o negócio?
Eu fui lá. Estou com eles até hoje. Eles também criaram as outras bebidas. É assim que funciona: você fala “eu quero um guaraná”. Aí, o cara traz as amostras de sabores. Traz três, quatro, cinco. Então, um desses eu acertei em cheio e dei o nome de Guaravita, que foi um sucesso.

Como funciona o uso da fórmula? Ninguém pode usá-la, utilizando outro nome?
Não. O Guaravita é registrado no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).

Qual é o perfil do consumidor dos produtos?
Geralmente, eram crianças. Mas, hoje, temos a preferência de muitos adultos. De 30% a 40% são crianças e 60% são adultos.
Atualmente, o Guaravita patrocina dois grandes times de futebol do Rio. Começou com o Botafogo e, este ano, passou a patrocinar também o Flamengo. 

Como começou a sua relação com o futebol e qual é o seu time do coração?
Meu time é o Flamengo. O futebol é a maior paixão do brasileiro. A visibilidade (da marca) para o público é sensacional, pois (a propaganda nas camisas) atinge pessoas de vários perfis, principalmente quando é um clube, como o Flamengo, tem uma torcida enorme. O Botafogo também. Os maiores craques do Brasil passaram pelo Botafogo. Com esses dois clubes, nós atingimos uma faixa de vendas que nos fez ser líderes absolutos no mercado carioca.

Grande parte disso se deve à divulgação no esporte?
Totalmente. E outras veiculações também. Eu acabei de fazer um contrato com o Maracanã. Um contrato master, que é o maior . Em volta de todo o campo, haverá placas das nossas bebidas.

Hoje, o Guaravita chega a todo o país?
Não. Quando eles (compradores) vêm buscar, sim. Apesar de que todos os estados já nos pediram para montar fábricas de nossos produtos... mas só temos uma fábrica aqui no Rio e outra em Ribeirão Preto. Em todo o Estado de São Paulo, a venda do Guaraviton é enorme, porque o poder aquisitivo (do paulista e do paulistano) é maior do que o do carioca.

Vem algum produto novo por aí? Quais são os planos para a empresa?
Tem o xarope de Guaravita, que está no mercado há uns cinco meses. Não está em todos os supermercados, mas vai chegar.

Como surgiu a ideia do xarope?
Houve muitos pedidos (dos consumidores), que diziam que todas as bebidas tinham (a versão xarope), e a gente não.

Que dicas o senhor dá para o pequeno empreendedor, que sonha ter um grande negócio?
Para esse Brasil de hoje, que não dá incentivo, eu recomendo que o pequeno empreendedor deve ter muita cautela, analisar o tipo de investimento que vai fazer, para depois se lançar (no mercado). Hoje, a situação está muito feia na área econômica do país.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/economia/ex-oficial-do-exercito-empresario-conta-como-criou-fabrica-do-guaravita-14218189.html#ixzz3G3CHSCt7

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