quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Após duradouro impasse, Associação Comercial de Juiz de Fora revitaliza fachada

Por Mauro Morais

Foto: Fernando Priano

Sai o cinza, sisudo e austero, para entrar o azul e branco, com detalhes em laranja, muito mais solar e descontraído, em harmonia com a Praça da Estação. Depois de longos anos de impasse, a fachada da Associação Comercial de Juiz de Fora surge vigorosa no espaço que, pouco a pouco, se vê renovado. Nesta quinta, às 20h, a entidade realiza solenidade de agradecimento pela restauração, reverenciando os 27 parceiros que contribuíram na empreitada. De acordo com o presidente Aloísio José Vasconcelos Barbosa, o projeto, que não contou com uma empresa especializada em restauração e teve a orientação de um dos diretores, o engenheiro Ricardo Miana, estava orçado entre R$ 100 e R$ 150 mil, valor que deverá ser confirmado na próxima semana pelo diretor-tesoureiro.
As novas cores são fruto da própria identidade visual da associação e não dialogam com os tons originais da casa, inaugurada em 21 de abril de 1918, demarcando o lugar dos empresários na sociedade da época e o ambiente luxuoso de uma praça que servia como cartão de visitas da cidade. Projetado por Rafael Arcuri, da Cia. Pantaleone Arcuri, o prédio ostenta características comuns à maior empresa de arquitetura e engenharia local. Detalhes que, agora, saltam aos olhos. Os leões e as cabeças do Deus Hermes, com suas asas em um chapéu, aparecem na fachada tal qual na antiga sede da companhia, localizada na esquina entre a Rua Espírito Santo e a Avenida Itamar Franco.
Segundo o artigo “A ‘Hora legal’ e a sociedade juiz-forana”, de autoria dos pesquisadores Leandro Pereira Gonçalves e Leonardo Lopes Vergara, publicado na revista científica do CES-JF, “a ostentação por parte dos comerciantes em relação ao poder podia ser vista no edifício histórico”. Pertencente ao estilo eclético, a construção segue certo rebuscamento, apostando nessa ornamentação fantasiosa. Como a fachada, a entrada principal do casarão também retrata um tempo, com sua escadaria em madeira cheia de detalhes, um vitral em estilo art nouveau no qual três figuras de mulheres representam as forças da indústria, da agricultura e do comércio, além do salão com inspiradas pinturas de Angelo Bigi.

Pela praça

“A proposta era fazermos só a restauração da fachada, mas como as doações dos apoiadores superaram nossas expectativas, resolvemos revitalizar o interior”, afirma Aloísio Vasconcelos, apontando o desejo em pintar o teto e sintecar o taco do salão nobre. Já deteriorada, mas em dimensões inferiores, a arte de Bigi ainda não está no plano de ação da entidade. Até porque é justamente sobre o assunto que uma batalha judicial foi travada e ainda não está concluída. Em 2009, uma parede, contendo pintura atribuída a Bigi, localizada no hall da edificação, foi demolida sem a permissão do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Juiz de Fora (Comppac), que levou o caso ao Ministério Público.
“Estou 100% convicto de que estávamos corretos. Esperamos que, ao final, haja uma retratação”, comenta o presidente Vasconcelos, dizendo-se um dos maiores defensores do prédio. “Minha paixão por isso aqui é imensa. Não é por acaso que, em função desse esforço, deram meu nome a essa sala”, diz, apontando para a placa que nomeia o salão principal. Entusiasmado com o novo trabalho, Vasconcelos conta sobre a última grande reforma do espaço, cuja inauguração foi feita em 2001 e na qual toda a estrutura foi avaliada. “O projeto era fazer daqui o Museu do Comércio”, recorda-se. Atualmente, a pretensão é que o lugar sirva como Casa do Empresário, destinada a eventos de negócios locais. “A partir de agora, vamos usar essa parte intensamente”, planeja.
Utilizando diariamente a passagem lateral, que dá acesso ao prédio anexo – uma construção bem mais recente e em nada harmônica com a porção histórica -, a associação espera atrair atenções para a importância de proteção e, principalmente, renovação do centro juiz-forano. Para participar da solenidade, Vasconcelos convidou o especialista em desenvolvimento estratégico de cidades e revitalização de áreas urbanas Marcio Calvão Moura. Um dos criadores do Circo Voador e da Fundição Progresso, espaços que alavancaram a retomada da Lapa, no Rio de Janeiro, e autor de projeto para o Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador, Marcio foi convidado pelo presidente da Associação Comercial para que se reúna com o prefeito na defesa de um plano de ação para a Praça da Estação e seu entorno.
“Precisamos convencer o Poder Público a revitalizar essa região”, clama Vasconcelos, demonstrando sua pretensão por fazer mais que queimar fogos na solenidade desta quinta. Para ele, a praça poderia ser o carro-chefe de um grande shopping a céu aberto, o que beneficiaria, principalmente, os empresários, classe que ajudou a fundar a entidade, nos anos finais do século XIX. Interessados em demonstrar a pompa que dominava o centro histórico de Juiz de Fora nos anos iniciais do século XX, quando o prédio foi erguido, os empresários adentravam um espaço no qual, no alto da fachada, ficavam três grandes esculturas femininas. “Ninguém sabe o paradeiro daquilo”, comenta Vasconcelos. Quem sabe numa próxima etapa…
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