domingo, 5 de janeiro de 2014

FILHA DE EX-PREFEITO DE JUIZ DE FORA APLICA GOLPE PELA INTERNET

Golpes pela internet estragam a temporada de cariocas e turistas

  • Sites alegam que não têm como controlar negócios entre usuários.





Golpe. Mayla Bacelar alugou uma casa pela internet, mas imóvel não existia
Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Golpe. Mayla Bacelar alugou uma casa pela internet, mas imóvel não existia Domingos Peixoto / Agência O Globo
RIO — Planejar as férias virou trauma para Mayla Barcelar. Cuidadosa, ela seguiu as recomendações dos serviços de proteção ao consumidor ao alugar uma casa para passar o carnaval de 2012 com a família em Cabo Frio. Procurou um site confiável — o bomnegócio.com —, falou com Marta, responsável pelo imóvel, e depositou no dia 27 de janeiro daquele ano o valor referente a 10% do aluguel da casa, no número 525 da Avenida do Contorno, no bairro de Vila Nova, por cinco dias. Mas, quando foi até o local, onde estava a casa?
Outras vítimas de fraude
Depois de ligar algumas vezes para Marta — que mais tarde descobriu se tratar da mineira Tatiana dos Santos Bejani — ela percebeu que caíra num golpe. Registrou queixa na 124ª DP (Cabo Frio), denunciou o caso no site Reclame Aqui e passou a ser procurada por outras vítimas.
Um levantamento do GLOBO constatou que, entre 2012 e este ano, pelo menos 12 pessoas foram vítimas da mesma fraude e denunciaram Tatiana Bejani em delegacias da Barra, da Ilha do Governador, do Tanque e também em cidades como Cabo Frio, Campos, Volta Redonda e Valença. Há ainda um registro de ocorrência na Delegacia de Crimes de Internet.
Segundo a assessoria da Polícia Civil, como os depósitos foram feitos em contas de Tatiana em bancos de Juiz de Fora, as investigações foram encaminhadas à Polinter de Minas Gerais.
— O mais chocante é que essa Tatiana existe, é filha de um ex-prefeito de Juiz de Fora e tem endereço próprio. Só depois do golpe descobri que ela responde a processos por estelionato. Mas continua aplicando o golpe. A única coisa que o site fez foi tirar o anúncio do ar — conta Mayla.
Filha de ex-prefeito alugou imóvel inexistente
Moradora de Teresina, no Piauí, Samia Raquel Brito encontrou no site OXL o lugar certo para se aborrecer. Uma corretora oferecia casas para o ano novo de 2014 em Búzios e Natal:
— Escolhemos Natal e fiz uma reserva. Depositei R$ 3 mil na conta de Tatiana em junho. E ainda fiquei trocando e-mails com ela. Não recebi o contrato e comecei a reclamar, até perceber que algo estava errado. Falei com uma irmã da Tatiana, que confirmou o que ela faz. Estou juntando provas para fazer uma queixa-crime.
O site bomnegócio.com informou, em nota, que dispõe de uma equipe de suporte aos usuários e acrescentou que o internauta pode denunciar o anunciante caso desconfie de irregularidade. Já a OLX informou que “sempre colabora com as autoridades”, mas que “não tem controle sobre as transações feitas entre os usuários”.
O GLOBO tentou entrar em contato com Tatiana pelos e-mails e celulares divulgados nos sites, mas não conseguiu. Ela é filha do ex-prefeito Alberto Bejani, que responde a processo na 2ª Vara de Justiça Federal, em Juiz de Fora, por improbidade administrativa. Em 2008, foi autuado em flagrante por porte ilegal de armas durante a Operação Pasárgada, da Polícia Federal, que revelou um esquema de desvio de verbas do Fundo de Participação dos Municípios. Em sua casa, a polícia apreendeu R$ 1,120 milhão em espécie.
A Delegacia de Defesa do Consumidor abriu 13 inquéritos para apurar casos em que as vítimas compraram pacotes em sites ou agências. Na maioria das vezes, a fraude foi descoberta poucos dias antes ou na hora do embarque, com o cancelamento da viagem. Ao procurarem as agências, as vítimas foram informadas de que se tratava de pacotes oferecidos pela Shangri-lá Operadora de Turismo e que a empresa havia falido. Os valores pagos não foram devolvidos.
Titular da Delegacia do Consumidor, o delegado Tarcisio Andreas Jansen acha que as empresas e os sites deveriam responder civil e criminalmente. Para ele, as empresas de internet deveriam fazer um levantamento para verificar a legalidade do serviço que está sendo oferecido em seu site.

 

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