domingo, 17 de março de 2013

Usuários de droga tomam área abandonada no Bonfim


17 de Março de 2013 - 06:00


Praça Padre Léo nunca chegou a ser inaugurada e, ao invés de espaço público de lazer, traz medo para a vizinhança

Por Marina Sad

Degradação é a palavra que resume a situação da Praça Padre Léo, na esquina das ruas Barão do Retiro com Professor Francisco Faria, no Bairro Bonfim, Zona Leste. A Tribuna vem acompanhando a situação do local desde o anúncio da sua construção (ver arte), em junho de 2011. O espaço, que nunca chegou a ser inaugurado, foi se deteriorando aos poucos e, agora, tornou-se somente um lote vago. A situação de abandono é tão séria que uma pequena cabana foi erguida nos fundos do terreno e tem sido ponto de usuários de drogas até mesmo durante o dia, como flagrado pela reportagem.
Uma moradora do bairro que não quis ter o nome citado conta que o buraco no meio da praça ficou conhecido como garganta do fumo, porque usuários de droga estariam se apossando do espaço. Ela diz ainda que vários assaltos têm ocorrido na região e acredita que o fato estaria ligado à situação da antiga área de lazer. A proprietária de um comércio do bairro que também prefere não ser identificada diz estar assustada. Ela conta que já houve quatro tentativas de arrombamento em sua loja. A comerciante também reforça que as pessoas não esperam nem a noite chegar para usar drogas no local. Acrescenta ainda que os usuários costumam queimar cobre na praça e vender o metal fundido para conseguir dinheiro para drogas. 
Ação paliativa
Sacolas plásticas, garrafas, pedaços de computador e disquetes também podiam ser encontrados espalhados pela área de quase dois mil metros quadrados, até a quarta-feira, dia 6 deste mês, quando a Demlurb realizou uma limpeza no local. A moradora que reclama da situação da área acrescenta, porém, que a limpeza foi realizada apenas superficialmente, não se apresentando como solução, mas como ação paliativa. "Caso o prefeito não tome providências, estamos querendo fechar a rua em protesto."
O pintor Júlio Cezar Janovero, morador do bairro há 35 anos, denuncia que nunca havia visto uma capina no espaço, somente em volta do terreno, realizada pelos próprios moradores. Segundo o pintor, o lixo no lote não era recolhido, e a população temia a proliferação de Aedes aegypti. "É um bairro tão bonito que está estragado", lamenta. 

Anos de esquecimento, apesar dos protestos 

Em maio de 2012, os moradores fizeram um abaixo-assinado para cobrar providências do Poder Público. Em junho, o assunto foi discutido, durante audiência pública na Câmara Municipal, mas nada foi realizado. A situação é agravada por um afundamento ocorrido no terreno em 2011. Na época, a Secretaria de Obras alegou que a causa havia sido o rompimento de uma galeria, construída com tubos ármicos, há 12 anos, para canalizar parte do Córrego Matirumbide, que passa pelo local.
Por meio da assessoria de comunicação, a Secretaria de Obras alega que já está sendo realizado um novo estudo para a correta canalização do córrego. Depois disso, a praça deve ser reconstruída. O chefe de operações da Demlurb, Paulo Antônio Delgado, garante que a Demlurb tem feito a limpeza do terreno. No entanto, explica que, como o espaço é do município, a responsabilidade pela manutenção fica com a Secretaria de Administração e Recursos Humanos (SARH). Já a pasta, por meio de sua assessoria, argumenta que enviou documento ao Demlurb, solicitando a execução da limpeza. 
Cidadania
O professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFJF Frederico Braida lamenta que a Praça Padre Léo tenha sido abandonada. "O espaço, em vez de trazer vida, revela degradação por si só, com usos teoricamente indevidos e pessoas indesejadas pela população. Ela tornou-se um incômodo, porque não oferece tudo o que deveria se estivesse equipada pelo Poder Público". Ele reforça que a falta da praça pode inviabilizar o encontro entre os cidadãos e consequentemente dificultar o exercício da cidadania, já que a área deveria servir também para reuniões. O docente lembra ainda que a cidade carece de áreas públicas, espaços verdes e, "especialmente, praças equipadas para determinados usos, como contemplação, lazer e esportes."
Frederico levanta ainda o problema da canalização do córrego, ressaltando que estudos contemporâneos são contrários a essa prática. Segundo ele, a água deve ser exposta e tratada se necessário. Depois disso, a praça poderia ser construída ao longo das margens do riacho.
http://www.tribunademinas.com.br/cidade/usuarios-de-droga-tomam-area-abandonada-no-bonfim-1.1246074

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