História preservada. Fortaleza de Santa Cruz foi a primeira construção erguida para proteger a Baía de Guanabara Daniela Dacorso
RIO - A cobra vai fumar. E não adianta forçar a barra. Esses ditados populares nasceram bem aqui pertinho, no complexo de fortes de Niterói. O primeiro seria uma resposta aos céticos, que diziam ser mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na Segunda Guerra. Já o segundo remete à invasão francesa, no século XVIII, quando os navios invasores romperam a barra da Baía da Guanabara, entre o Forte São João, na Urca, e a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói. Essas são algumas das curiosidades à disposição dos cerca de 90 mil visitantes que passam anualmente pelas quatro fortalezas de Niterói. A primeira, o Forte de Santa Cruz, completa 400 anos este ano com muitas histórias para contar.
De volta ao passado
Cruzar os portões da Fortaleza de Santa Cruz, no fim da Praia de Jurujuba, é como voltar ao passado. Prédios da época, ainda preservados, misturam-se a antigas peças de artilharia e à vista privilegiada da entrada da baía. As visitas são guiadas por soldados, especialmente treinados para contar as histórias e as lendas do lugar.
Uma das histórias se refere à imagem que adorna a Capela de Santa Bárbara, que teria chegado ao local por engano e nunca conseguiu ser levada ao seu destino original, o Forte de Santa Cruz, no Centro do Rio.
— Toda vez que eles tentavam levar a imagem, o mar ficava revolto e eles não conseguiam cumprir a missão. Santa Bárbara preferiu ficar aqui — brincou o subtenente Henri Torres, formado e pós-graduado em história militar.
Além dos prédios históricos que abrigam os alojamentos e a administração, as 41 casamatas e as muradas de proteção são uma joia da engenharia militar brasileira. A construção, que durou sete anos, utilizou blocos de granito maciço, presos uns aos outros por gatos (grampos) de bronze e argamassa — um dos primeiros usos desse material em fortificações brasileiras. As casamatas foram concluídas em 1870. Hoje, a fortaleza ainda guarda 52 canhões de diferentes origens e calibres.
— Costumo dizer que a obra representa a nossa pirâmide do Egito — compara o subtenente Torres, referindo-se à dificuldade da construção na época. — A estrada de acesso à fortaleza só foi construída entre 1839 e 1843. Até então, tudo chegava ao forte pelo mar.
Com a necessidade melhorar as defesas da baía, outros fortes foram erguidos. Do lado de Niterói, surgiram o Forte Barão do Rio Branco, no século XVII; os fortes de São Luiz e do Pico, no século XVIII; e o Forte do Imbuhy, para onde foi levado o material mais moderno de artilharia de costa do Brasil, no início do século XX.
No Forte Barão do Rio Branco, o maior atrativo são as duas praias — Rio Branco e Imbuhy — com acesso restrito a 500 pessoas, entre militares e moradores da vizinhança. Foi de lá que partiram 600 soldados para a Segunda Guerra Mundial. O grupo, conhecido como Monte Bastione, hoje tem um monumento no pátio principal do forte em sua homenagem.
Vista deslumbrante do Rio
O Rio Branco se resume a um paredão de pedras com canhões para evitar o desembarque nas praias oceânicas. Ele não está aberto ao público, mas é por ele que se chega ao forte do Pico, que fica 227 metros acima do nível do mar. O caminho, de dois quilômetros, é feito por uma estrada aberta numa área de Mata Atlântica. Na parte mais alta, tem-se uma vista deslumbrante do Rio.
Do alto, a paisagem se confunde com as ruínas do Forte São Luiz, um pouco mais abaixo. Duas construções em ruínas, onde eram os alojamentos, são as últimas testemunhas da história. E, no fim do passeio, uma surpresa: em frente a uma das casas, de um único ponto do terreno, é possível ver o Pão de Açúcar e o Corcovado, emoldurados numa janela de pedras.
É também do alto do Forte do Pico a melhor vista do Forte Imbuhy, com uma outra surpresa. Uma rocha debruçada sobre o mar, guarda um segredo centenário: o paiol das fortificações, que ocupa 18 salas em dois pavimentos, construídas no interior da pedra, escavada no início do século XX.
As fortificações de Niterói são as únicas construções fora do Rio que fazem parte do complexo tombado pela Unesco este ano. E o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está fazendo uma rerratificação do tombamento parcial das edificações em 1939.
— A fortaleza de Santa Cruz é uma sala de aula a céu aberto. É uma máquina do tempo. Aqui se consegue passear pelos 400 anos — comenta o subtenente Henry.
Anote
Visitas Guiadas.
As visitas à Fortaleza de Santa Cruz acontecem de terça-feira a domingo, das 10h às 17h. Os grupos de visitantes partem a cada 30 minutos, e o passeio dura em média uma hora. O ingresso custa R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Alunos da rede pública não pagam, desde que a visita seja agendada pelo colégio. No Forte São Luiz e no Forte do Pico, as visitas só acontecem aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 16h. O ingresso custa R$ 15.
O Forte Rio Branco não é aberto ao público.
Caminhada ecológica.
É gratuita e acontece no fim de semana seguinte ao Dia do Soldado, no dia 25 de agosto. O passeio guiado vai até o topo do Forte do Pico, passando pelas ruínas do Forte São Luiz. A descida é por trilhas até a Fortaleza de Santa Cruz. A caminhada leva em média uma hora.
Procissão de Santa Bárbara.
O Dia de Santa Bárbara, em 4 de dezembro, é comemorado com uma procissão que parte da Praia de Jurujuba e segue até a Fortaleza de Santa Cruz.
http://www.prensaescrita.com/adiario.php?codigo=POR&pagina=http://oglobo.globo.com
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