segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Fim do ciclo dos últimos 30 anos


Por: Ricardo Miranda
O ano é 1983. Correndo com um carro com motor turbo, o piloto brasileiro Nelson Piquet conquista seu segundo título mundial no Grande Prêmio da África do Sul. Na Estação Científica Vostok, na Antártida, é registrada a menor temperatura do planeta: -89,2ºC. Em São Paulo, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo entram com pedido de concordata depois de quase cem anos de atividades. O sucesso nas rádios fica por conta de Ritchie e sua "Menina Veneno" e Michael Jackson com "Billie Jean". Tancredo Neves toma posse como primeiro governador de Minas eleito pelo voto direto após a ditadura militar. Itamar Franco assume seu segundo mandato como senador. Em Juiz de Fora, Tarcísio Delgado (sem partido) é empossado prefeito, iniciando o mais longo ciclo político do município que se encerrará no dia 1º de janeiro de 2013, 30 anos depois, com a chegada de Bruno Siqueira (PMDB) à Prefeitura.

Durante todo esse período, além de Tarcísio, apenas Alberto Bejani (PSL) e Custódio Mattos (PSDB) estiveram à frente do Executivo. Sob o comando dos três, a população juiz-forana cresceu muito, saltando de 307.525 habitantes para os atuais 516.247. Multiplicaram-se bairros, ruas e avenidas. Em proporção ainda maior, os automóveis, enquanto o sistema de transporte público coletivo pouco evoluiu. Sobre a linha do trem, colocaram dois viadutos e a promessa de outros mais. A infraestrutura de saúde pública cresceu e ainda cresce a despeito do subfinanciamento do setor. Programas e ações foram lançados e relançados. Os postos de saúde e hospitais ganharam novas nomenclaturas e novos endereços de tempos em tempos. A assistência social foi instituída como política pública. Criaram a Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac), usaram a Amac, questionaram a Amac, mantiveram a Amac. Construíram-se creches e escolas, mas sem satisfazer a demanda.

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) deixou de ser sozinha. Outras universidades abriram suas portas. Mais estudantes vieram, qualificaram-se e partiram. Bens históricos desapareceram, dando lugar a centros culturais e também a grandes edifícios. Reformaram-se alguns teatros e iniciou-se a eterna construção de outro. Os cinemas saíram das ruas e foram para os shoppings, que tardaram, mas apareceram. O carnaval continuou o mesmo; mudou apenas de endereço, saindo da Avenida Rio Branco e se alojando na Avenida Brasil. Os chamados "points" da cidade também trocaram de localização, deixando as galerias e prédios do Centro com destino ao São Mateus, Alto dos Passos, São Pedro e Aeroporto. O Raffa's, o Bar Esperança, o Privê, o Vitrô, o Vivabella e o Vila das Tochas não existem mais. A noite ganhou novos donos: Privilège, Cultural Bar, Muzik.

A herança industrial sobreviveu, mas sem força para concorrer com a prestação de serviços e o comércio. Pequenas empresas cresceram, e grandes empresas fecharam. Outras tantas foram embora e recentemente começaram a voltar. Vieram as multinacionais. Produziu-se aqui carros e agora são produzidos caminhões. A localização geográfica persiste como um grande atrativo, muito embora o Rio de Janeiro sempre pareceu mais próximo, e Belo Horizonte, por vezes, mais distante. Brasília, então, nem se fala. Por conta da necessidade de aportes externos, dada a situação econômica do município, é justamente no encurtamento das distâncias até as capitais mineira e nacional que Tarcísio, Custódio e Bejani gastaram boa parte do tempo nos últimos 30 anos. E, não por acaso, estão em Belo Horizonte e Brasília os recursos empenhados para o novo ciclo político a ser iniciado por Bruno Siqueira.

Os 14 anos de Tarcísio em três mandatos
Tarcísio Delgado foi eleito prefeito pela primeira vez em 1982. Concorrendo na chapa com Tancredo Neves como candidato ao Governo de Minas e Itamar Franco ao Senado, a eleição dos três representou uma reação ao decadente regime militar. Sua gestão foi marcada por avanços nas áreas social, política e de infraestrutura urbana. Foi criada a Amac e os grupos "Solidariedade", com as bandeiras Pró-Creche, Pró-Criança, Pró-Iluminação, Pró-Alimentação, Pró-Idoso, Pró-Escola e Pró-Habitação. Margarida Salomão e Custódio Mattos integraram seu secretariado. Esse mandato durou seis anos.

Sempre pelo PMDB, Tarcísio retornou à Prefeitura em 1997, sucedendo Custódio e vencendo Bejani. Os dois primeiros anos foram dedicados àquilo que ele tratou como colocar o "trem nos trilhos". Na ocasião, iniciou-se a elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano. Reeleito em 2000, mais uma vez em uma vitória sobre Bejani, ele realizou a reforma administrativa. A mobilidade urbana veio para ordem do dia, com as construções do terminal para implantação do sistema de transporte troncalizado e o viaduto sobre a linha férrea no trevo da Becton Dickinson.

Bejani comanda PJF em 7 anos e 5 meses

Considerado como a grande novidade da política de Juiz de Fora, Alberto Bejani saiu do rádio para a Prefeitura em 1988. Com mais votos que Custódio Mattos e Murilo Hingel, mas com pouco mais de 30% dos votos, ele foi o último prefeito eleito antes da instituição de dois turnos para cidades com mais de 200 mil eleitores. Seu primeiro mandato foi marcado pelo forte apelo populista e por fortes divergências com a Câmara Municipal. Ainda assim, conseguiu fazer realizações na área social.

Sempre presente nas disputas a partir de 1996, Bejani conseguiu voltar à Prefeitura em 2004, derrotando mais uma vez Custódio. Com experiência do primeiro mandato e de duas passagens pela Assembleia de Minas, iniciou sua nova gestão buscando proximidade com os governos estadual e federal. Conseguiu recursos para obras importantes, com a despoluição do Rio Paraibuna e o Restaurante Popular. Preso em 2008 por suposto envolvimento em fraude no INSS, foi forçado a renunciar após um vídeo em que ele aparece negociando com empresários do transporte coletivo ser exibido no "Jornal Nacional". O vice José Eduardo Araújo assumiu.

Custódio à frente
 de duas gestões
Custódio Mattos chegou à Prefeitura em 1993, após derrotar Tarcísio Delgado, com quem havia trabalhado em 1983. Sua campanha foi pautada pela necessidade de recuperação do município, que havia sido administrado por Bejani. Com apoio do então presidente Itamar Franco e do governador Eduardo Azeredo, colocou a questão do desenvolvimento econômico na ordem do dia. Entre os destaques de sua administração, a instalação da fábrica da Mercedes-Benz em Juiz de Fora. Também foi construído nessa administração o viaduto sobre a linha férrea no Bairro Poço Rico.

Quinze anos depois, em 2008, Custódio voltou a suceder Bejani, mais uma vez após derrotar Tarcísio. A recuperação econômica e também da autoestima juiz-forana voltou à pauta de sua campanha. Mas foram as obras viárias para desafogar o trânsito na área urbana do município, bem como a construção de um hospital na Zona Norte, as suas principais apostas. Com apoio do Governo de Minas, que alterou a legislação tributária e fiscal, a atração de investimentos foi retomada. Também foi iniciada a nova unidade hospitalar. Sem conseguir tirar as obras viárias do papel, no entanto, Custódio foi derrotado pelo apelo ao novo.

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