O senador Pedro Simon (PMDB) prepara para amanhã, quando se completa um ano da morte do ex-presidente Itamar Franco, ou no mais tardar para terça-feira, no retorno dos senadores a Brasília, um pronunciamento em memória do seu ex-companheiro de Congresso. Vai falar do vazio moral aberto com a morte do juiz-forano. Como aconteceu na sessão solene da Casa após as cerimônias fúnebres, no ano passado, o discurso deve ser interrompido por apartes de diversos parlamentares, inclusive dos três da bancada mineira: Aécio Neves (PSDB), Zezé Perrella (PDT) e Clésio Andrade (PMDB). Os dois primeiros, que tiveram relação mais estreita com o ex-presidente, sendo o pedetista inclusive seu suplente, andam em débito com seu legado. Ainda no ano passado, eles prometeram alocar recursos por meio de emendas parlamentares para a construção do Memorial da República Presidente Itamar Franco, vinculado à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Nenhum centavo ainda apareceu.
Orçada em R$ 4 milhões e com previsão de término para o primeiro semestre de 2013, a obra está sendo executada com recursos exclusivos da UFJF. O espaço vai abrigar o acervo com aproximadamente 302.400 correspondências populares dirigidas ao ex-presidente, mais de cinco mil títulos bibliográficos, arquivo de imagens e objetos pessoais. O prédio está sendo erguido ao lado Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), na área central da cidade, com projeto de 810 metros quadrados de área construída em dois blocos. Atualmente, todo material está abrigado no quinto andar do Museu do Crédito Real. Há cerca de três meses, o elevador do edifício apresentou defeito e foi interditado. A peça para conserto chegou a Juiz de Fora no início da última semana. A previsão é de que o reparo seja feito até terça-feira. Apesar do contratempo, os funcionários responsáveis pelo acervo do ex-presidente seguem trabalhando normalmente, preparando o material para mudança.
Durante a última semana, a Tribuna entrou em contato com as assessorias de Aécio e Perrella, que ficaram de verificar a questão das emendas com as equipes técnicas do Senado. Também foi feito contato com a assessoria de Clésio. Mesmo não tendo se comprometido com a questão do Memorial da República Presidente Itamar Franco, o senador, por meio de sua assessoria, colocou-se à disposição para tentar um acordo para viabilizar uma emenda para os recursos. As conversas devem ser iniciadas apenas no segundo semestre. O ex-ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, que participou das negociações iniciais para captação de recursos para o projeto, relatou ter ouvido dos senadores dificuldades para conseguir emplacar emendas com objeto específico para universidades. Os esforços, segundo ele, ao que parece, param nesse obstáculo.
Além dos recursos para construção do Memorial da República, empreendimentos que trazem o nome do ex-presidente, como o Aeroporto Presidente Itamar Franco e o Centro Regional de Convenções e Exposições Presidente Itamar Franco, permanecem praticamente no mesmo estágio do último ano. No primeiro caso, a principal pendência envolve o acesso ao aeroporto. A promessa de recursos para construção da ligação da MG-353 a BR-040 segue sem horizonte. Já o Centro de Convenções padece ainda de um modelo de gestão mais eficaz.
Itamarismo segue com Bruno e Djalma
A saída de Henrique Hargreaves do escritório de representação do Governo de Minas Gerais em Brasília, no início deste ano, soou como um alerta para os demais integrantes do chamado grupo "itamarista". O secretário de Estado de Governo, Danilo de Castro, figurou em todas as apostas como nome certo para substituir Djalma Morais na presidência da Cemig. Também em Juiz de Fora, a possibilidade de o deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB) disputar o Executivo foi vista com distanciamento. Um ano depois, as previsões mostraram-se equivocadas. Djalma não só ficou na Cemig como aumentou seu poderio após a aquisição da Ligth, distribuidora de energia da capital do Rio de Janeiro. Já Bruno conseguiu ser candidato a prefeito pelo PMDB, algo considerado improvável pelo próprio ex-presidente Itamar Franco dado poder exercido pelo ex-prefeito Tarcísio Delgado no partido. Para muitos peemedebistas, a batalha travada recentemente entre os grupos de Bruno e de Tarcísio pela condição de candidato da legenda não passa de um prolongamento dos constantes embates entre o ex-prefeito e o ex-presidente.
No Senado, as bandeiras defendidas por Itamar ficaram à deriva. O que ele classificou de "totalitarismo do regimento interno", que dava aos dirigentes dos partidos mais fortes da Casa, "os marechais de ferro do Senado", poder para decidir sozinhos as regras que todos são obrigados a acatar, segue ainda mais forte. A proposta de emenda à Constituição (PEC)11/11, que altera o rito de tramitação das medidas provisórias e contava com defesa de Itamar, foi encampada pelo senador Aécio Neves (PSDB). O texto foi aprovado pelo Senado e hoje tramita na Câmara dos Deputados.
Mas a maior falta de Itamar, segundo o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), está na oposição. "Itamar atuou aqui nesta Casa como um guerreiro incansável, um parlamentar que não escondia de ninguém a tristeza de ver um Legislativo rebaixado, absolutamente submisso aos desejos e aos interesses do Executivo. Mesmo quando era aliado, Itamar não abria mão de suas convicções, não se submetia ao canto fácil da sereia governista. Se discordava de algo, tornava logo públicas suas críticas e questionamentos."
O suplemente
O suplente de Itamar, o senador Zezé Perrella (PDT), foi empossado sendo alvo de uma investigação do Ministério Publico Estadual devido denúncias de enriquecimento ilícito. Na última semana, agentes da Receita Estadual e da Polícia Militar cumpriram mandado de busca e apreensão no apartamento do seu irmão, Alvimar de Oliveira Costa. Ele é dono da empresa Stillus Alimentação e suspeito de chefiar esquema criminoso de manipulação de licitações para fornecimento de comida para presídios e escolas públicas, em seis cidades mineiras e em Palmas, no Tocantins.
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