Este Redator foi ao 21º GAC, hoje aquartelado no histórico Forte Barão do Rio Branco, a convite de seu Comandante, Tenente Coronel Luciano Batista de Lima que gostaria de fazer uma homenagem inédita aos pescadores de sua área...
Isso nunca foi feito e muitos dos convidados, desconfiados, nem compareceram, fruto da convivência sempre difícil entre o Exército dono daquela área cheia de Fortalezas antigas e os pescadores de suas belas praias. Muitos invasores se aproveitaram da colônia de pescadores e sempre houve esse litígio.
Para ilustrar bem essa convivência nem sempre fácil, conto o diálogo entre eu e um dos convidados, um pescador forte, bem bronzeado como todos eles.
- Eu conheço o senhor, disse o pescador grandão.
- Bem, disse eu, servi aqui de 1965 a 70 e com um nome fácil de guardar como o meu, muitos me conhecem ainda daquele tempo.
- Mas eu conheço bem, insistiu ele. O senhor era magrinho e ruim como o capeta! Eu e o seu Mário tínhamos medo do senhor... disse o Miguel com aquela franqueza de homem simples, que passou a vida toda lidando com o mar. O ‘seu Mário’ mencionado por ele era o chefe da colônia de pescadores que usava as praias do Forte, falecido há pouco e quase uma lenda, ainda muito lembrado e respeitado no lugar.
Feito este preâmbulo, voltamos ao anfitrião, o atual Comandante do 21 GAC. GAC significa Grupo de Artilharia de Campanha, a organização padrão da Artilharia atual. A velha Artilharia de Costa que por séculos guarneceu aqueles Fortes, chamados de Sentinelas da Baía, não existe mais. Ficou obsoleta, ultrapassada nos tempos atuais e foi extinta.
No meu tempo, a Unidade que ocupava aqueles Fortes era a 1ª/1º GACosM (Grupo de Artilharia de Costa Motorizada) , depois substituída pelo 8º GACosM que viera do Leblon, quartel hoje ocupado pela PMERJ. Com a extinção da Artilharia de Costa, o 21º Grupo de Artilharia de Campanha, Grupo Monte Bastione, foi deslocado de São Cristóvão para ocupar tanto o Forte Barão do Rio Branco, como o velho Imbuhy. Metade se alojava em um e metade em outro aquartelamento. Com a transferência do Centro de Instrução de Operações Especiais para o Imbuhy, metade de seu pessoal ficou desalojada e aguarda em barracas os procedimentos burocráticos para liberação dos recursos para as necessárias obras.
A tropa já estava toda formada no pátio General Médici. Diante do PC do Comandante, começaram a chegar os convidados, além do Miguel já mencionado anteriormente, chegaram o velho “seu” Bertinho como é conhecido o pescador Liberty Lima de Oliveira de 94 anos, o pescador hoje vivo mais idoso de Jurujuba, acompanhado do filho e da esposa.
Chegou também o Diácono da igreja de Jurujuba, Sr Almir de Paiva, funcionário civil aposentado do Exército e detentor da Medalha do Pacificador, acompanhado orgulhosamente do filho, o Suboficial da Marinha Fernando de Souza Paiva e D. Maria Elizabete, sua esposa. Havia mais alguns pescadores e seus familiares e fechava o grupo o Pastor da Igreja Batista de Jurujuba, Milton dos Santos.
Acompanhei o Comandante até o palanque onde foram-lhe prestadas as honras militares de praxe. Em seguida, e após a apresentação da tropa pelo Major Pimentel, Subcomandante, foi hasteado o pavilhão nacional ao som do Hino Nacional Brasileiro executado pela Banda da Artilharia Divisionária Cordeiro de Farias.
Depois a tropa entoou a Canção do Exército e ouvimos as palavras do Comandante e sua vontade de homenagear os pescadores que tiveram seu dia em 29 de junho, dia de São Pedro, não só pescador na essência da palavra, de peixes, como também de almas, como seguidor de Jesus Cristo.
A fala do Ten Cel Lima foi interrompida diversas vezes pela emoção, contando que assim que assumiu o Comando foi visitar o lendário Seu Mário e o acompanhou até seus últimos dias de vida. Ali presentes a viúvaGeisa e o filho que segue os passos do pai no famoso barco com as cores do Botafogo, Luciano Santos Marins.
O Comandante ofereceu flores as senhoras e mandou distribuir um boné do 21 GAC a todos os convidados.
Ao final de suas palavras, mandou o corneteiro tocar ‘à vontade’ para a tropa, mandou que todos retirassem a boina e passou a palavra ao Pastor Milton para que fizesse uma oração orando por aqueles soldados e também pelos pescadores e suas famílias.
Uma coisa nas palavras do Comandante que chamou a atenção de todos foi o Bom Dia que deu a sua tropa, que, como padrão no Exército, é respondida por um alto brado de ‘Bom Dia Senhor Comandante’.
Isso é normal e já mostrei em outras organizações militares que, em algumas, o brado ribomba que nem trovão fazendo pombos ou outros pássaros alçarem voo...
Mas não foi isso que me chamou a atenção. Mesmo porque eu já servira ali por cinco anos e conhecia bem aquelas montanhas... Mas no meu tempo não havia esse brado...
E o Comandante em suas palavras, alertou os convidados que, se a tropa respondesse alto, fariam as montanhas falarem. E eles gritaram e elas – as montanha no entorno, falaram. Seu eco foi repetido várias vezes fazendo belo efeito!
Tudo muito emocionante e bonito de se ver, mudanças de estilo implementadas por este jovem Comandante.
Luciano, filho de 50 anos do velho Seu Mário, agradeceu emocionado as lembranças, referências ao pai e esta solenidade, inédita, pois, todos ali, jamais tiveram tal reconhecimento.
Ao final da solenidade a tropa desfilou em sua continência e após, ele chamou a Banda para diante do palanque e pediu que tocasse o Hino do Botafogo em homenagem à família do Seu Mário e em seguida o Hino do corinthians, homenagem ao Major Pimentel, seu Subcomandante.
No refeitório foi servido um lanche aos pescadores e seus familiares e lá, a pedido deles, a oração foi puxada pelo Seu Miguel, aquele do início deste artigo.
Conversando com ele e lembrando que no meu tempo servindo lá a tainha era pescada em abundância, ele me ensinou mais uma sobre ecologia e equilíbrio ecológico. Não existe mais tainha dentro da Baía. Elas já não entram. Existem, mas não entram. E sabe por quê? Porque os caiçaras mataram todos os cações. Não existe mais cação. Não existindo cação, elas não tem de quem fugir e portanto, passam no alto mar sem entrar na Baía.
Veja como é sensível o equilíbrio da natureza e o simples desaparecimento de um dos atores, altera toda uma cadeia relacionada...
Antes de ir embora – eu tinha um compromisso na ESG para preparação da solenidade de amanhã, o Ten CelLima levou-me até a praia para ver o trabalho que mandaram executar nas históricas e seculares muralhas. Ele tem um projeto ecológico para aquela área, mas ainda é segredo a ser revelado no momento oportuno.
Uma coisa de cada vez, mas, toda a área, os aquartelamentos e a comunidade, já são devedoras deste jovem Comandante...
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