As articulações internas do diretório peemedebista local com vistas à corrida sucessória municipal confirmam a máxima de Ulysses Guimarães de que "o PMDB não é para amadores, para quem não é do ramo". Não é mesmo. Depois de ter governado a cidade em 14 dos últimos 30 anos e ser recordista de vereadores eleitos no mesmo período, a legenda hoje tem como único objetivo: colocar fim à atual gestão do PSDB. O propósito nada absurdo até serviria para unir a sigla não fosse o fato de que, para alcançá-lo, foram traçados dois caminhos distintos. O primeiro deles, pensado há mais tempo e capitaneado pelo deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB), prevê o embate direto por meio do lançamento de candidatura própria com o parlamentar como candidato. Na outra direção, o grupo liderado pelo ex-prefeito Tarcísio Delgado (PMDB) quer uma aliança com o PT ainda no primeiro turno para viabilizar a vitória da pré-candidata petista Margarida Salomão ainda no dia 7 de outubro.
A favor da candidatura própria peemedebista, Bruno começou articular bem cedo. Há cerca de dois anos, com o regimento do partido debaixo do braço, iniciou o convencimento dos correligionários quanto à necessidade de se voltarem para a disputa da Prefeitura. O PMDB havia concorrido com Tarcísio em 2008, mas não obteve êxito. Assíduo às reuniões mensais do diretório, o deputado deu início a árdua tarefa de montar uma chapa competitiva para a disputa proporcional. Paralelamente, em Belo Horizonte, manteve afinado o discurso com o comando estadual do PMDB, que havia sido eleito com seu apoio. E assim, não demorou muito para Bruno reunir ao seu lado o presidente, o vice-presidente e o secretário do diretório municipal, além dos três vereadores: Júlio Gasparette, José Sóter de Figueirôa Neto e Francisco Canalli. E, finalmente, em abril deste ano, ele lançou-se como pré-candidato à prefeito.
As movimentações de Bruno foram acompanhadas à distância pelo chamado núcleo tarcisista. Mesmo por ocasião das eleições de 2010, quando o PMDB de Minas lançou Hélio Costa como candidato a governador, o diretório de Juiz de Fora não mostrou unicidade. Desde então, as diferenças entre os grupos pró-Bruno e pró-Tarcísio foram aumentando. A proximidade de Bruno com o ex-presidente Itamar Franco e de ambos com o senador Aécio Neves (PSDB) sempre aparecia nas ponderações de integrantes da ala do ex-prefeito. Por outro lado, os correligionários mais próximos do deputado reclamavam do fato de Tarcísio ter sumido do PMDB. Apesar das alfinetadas de ambos os lados, Bruno e Tarcísio conversaram por algumas vezes durante esse período.
Com a proximidade das eleições, já neste ano, o deputado e o ex-prefeito voltaram a se encontrar. Na ocasião, Bruno foi alertado quanto ao risco de ele e o deputado federal Júlio Delgado (PSB), que é filho de Tarcísio, lançarem candidaturas separadas. O conselho era para que ambos conversassem e buscassem uma saída conjunta, o que acabou não acontecendo. Enquanto Bruno seguia pelo caminho da candidatura própria, Tarcísio e Júlio tomaram o rumo que leva ao PT.
'Recuar pode ser sinônimo de vitória'
Ex-vice-prefeito e aliado de primeiríssima hora de Tarcísio Delgado, João César Novaes, considera o atual momento como oportuno para derrotar o PSDB, mesmo que para isso o PMDB tenha que se abdicar da proposta de candidatura própria. "Se vamos vencer, que seja no primeiro turno." Na sua avaliação, a antecipação da decisão para o dia 7 de outubro traz consigo uma série de vantagens. "O PT está aberto para conversas e podemos fazer uma administração conjunta. O Bruno (Siqueira) seria o condutor de todo o processo." Ele reconhece a liderança do deputado e prega prudência em relação à proposta de candidatura própria. "O Bruno vai ser prefeito de Juiz de Fora. Não tenho a menor dúvida. É uma grande liderança que está se consolidando, mas na política tem a coisa do tempo. O (ex-presidente) Itamar Franco sabia disso melhor do que ninguém. Tem hora que recuar pode ser sinônimo de vitória."
Para João César, o maior risco de uma possível candidatura de Bruno reside no próprio PMDB. "Sair candidato com o PMDB dividido não vai fazer bem para ele (Bruno). O momento é para consolidação de novas lideranças, mas é preciso que essa consolidação se dê por inteiro." Ele considera arriscado, principalmente, apostar em pesquisas eleitorais realizadas antes do início da campanha. "Em 2008, nessa mesma época, liderávamos todas as pesquisas com o Tarcísio como candidato e deu no que deu. É preciso ter uma visão pragmática, observar o cenário nacional."
Com o propósito de levar essas discussões para os demais correligionários, João César confirma que os chamados "tarcisistas" vão entrar agora no debate interno da legenda. "Vamos conversar em busca de um entendimento que seja bom para todos. Temos a certeza de que, com o PMDB unido, teremos um papel decisivo nas eleições. Isso não é novidade nenhuma para o PMDB."
'Vencemos no primeiro turno, com o PT de vice'
A proposta de vitória ainda em uma única etapa é endossada por Paulo Gutierrez, o Paulinho, atual vice-presidente do PMDB de Juiz de Fora e aliado de Bruno Siqueira. "Vencemos no primeiro turno, com o PT de vice." O problema, segundo ele, é que os petistas ainda não oficializaram nenhuma proposta de entendimento. Em relação à hipótese de sair dos quadros peemedebistas o segundo nome da chapa do PT, Paulinho é enfático: "Fizemos isso no segundo turno de 2008 e perdemos." Para ele, a candidatura de Bruno é viável e tem chances reais de vitória por conta do apelo do novo. "O Bruno contempla plenamente esse perfil do novo. Não podemos tirar essa opção de voto do eleitor juiz-forano. Seria uma irresponsabilidade virar da noite para o dia e dizer que o PMDB não vai mais para a disputa." Internamente, avalia, o estrago seria ainda maior. "Os candidatos a vereador não nos perdoariam."
Paulinho avalia que composições podem acontecer no segundo turno, mas, por ora, o PMDB deve se ocupar em buscar a unidade. "Os companheiros afastados precisam voltar. Lugar de peemedebista é no PMDB. Venham para cá e vamos conversar, não para enfraquecer, mas para fortalecer o PMDB." Com lápis e papel na mão, ele conta que, nas últimas 11 eleições, apenas em 2004, o PMDB não teve candidato, quando apoiou Sebastião Helvécio, que saiu candidato pelo PDT. O saldo no período é de seis vitórias. Fora isso, ele lembra que, exceção feita aos ex-prefeito Mello Reis e Alberto Bejani, os demais prefeitos (Tarcísio e Custódio Mattos) passaram pelo PMDB. Mesmo Margarida Salomão, ressalta, já assinou nossa ficha de filiação. "Agora você me explica como vou chegar para o militante, que conhece a história do partido e da cidade, e dizer que não teremos candidato? Não tem jeito. Vamos insistir no sonho da renovação."
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