Na primeira noite de desfiles na Passarela do Samba, o destaque foi a garra dos componentes, que mostravam o empenho de lutar por uma melhor colocação de suas escolas. No dia em que desfilaram as agremiações dos grupos B e C, teve passista que sambou com sandália arrebentada e gritos que ordenavam a volta por cima. O clima era de otimismo entre os componentes na busca por uma vaga no Grupo A.
A abertura da Passarela também contou com a presença da corte carnavalesca que, ao lado do superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, deu as boas-vindas aos foliões, que não lotaram as arquibancadas.
Uma ocorrência, depois dos desfiles, deixou revoltados os dirigentes das escolas. Três carros alegóricos que estavam estacionados na Avenida Brasil, após a ponte do Bairro Manoel Honório, foram incendiados. O Corpo de Bombeiros controlou as chamas, e ninguém se feriu.
Vale do Paraibuna
A Vale do Paraibuna levou para a Passarela do Samba uma Bahia multifacetada. Com 330 componentes, divididos em 11 alas e dois carros, a única representante do Grupo C mostrou o enredo "O negro é arte na Bahia" e teve um início de desfile morno, já que as arquibancadas ainda não estavam tomadas pelo público, mas deixou a avenida sob fortes aplausos. O destaque da escola foi a comissão de frente. Com oito componentes apresentando passos que representavam a dança negra trazida da África, a coreografia de Fernando Valério contagiou a plateia. No entanto, escola deve ser penalizada, já que o desfile ultrapassou o tempo máximo permitido em cerca de quatro minutos e meio.
Juventude Imperial
Figura cativa das rodas de samba juiz-foranas, o intérprete Flavinho da Juventude levantou a plateia, no desfile da Juventude Imperial, primeira representante do Grupo B a entrar na Passarela do Samba. Ele defendeu o enredo "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima", que chamava os componentes para o retorno à elite do carnaval, após o rebaixamento do ano passado. Na passarela, cerca de 450 componentes, 13 alas e três alegorias convidavam o público a uma viagem ao passado, relembrando os principais momentos da escola. E, para saudar a plateia, o coreógrafo Joseph Santos levou a corte portuguesa. Logo atrás, o carro abre-alas trazia o Bairro Furtado de Menezes, representado por suas ruas e casas. Com 80 ritmistas, a bateria também agradou com paradinhas que estimulavam o público a cantar.
Retiro
Com o enredo "Juiz de Fora - A pioneira Manchester Mineira", a Unidos das Vilas do Retiro emocionou o público ao desfilar a história da cidade, lançando mão de homenagens a personagens e marcos históricos, com três carros, 11 alas e 437 componentes. Um dos pontos altos foi a segunda alegoria, que levou um pedaço da Banda Daki à passarela, com a presença do general do mais tradicional bloco da cidade, Zé Kodak. O carro trazia um trio-elétrico cenográfico e contava com o efeito de uma chuva de confetes e fumaça. Bem atrás, integrantes do Domésticas de Luxo aproveitavam a lembrança do grupo no enredo para garantir uma dobradinha neste carnaval.
Já no último carro alegórico, que representava a cena cultural local, o artista plástico Roberto Bellei encravou seu cavalete para pintar um quadro durante o desfile. Ele retratou a Usina de Marmelos, que também foi tema do carro abre-alas. "Acho que pode ser um dos quadros mais bonitos de minha carreira, porque vai sair com muita emoção", disse, garantindo que o balanço da alegoria não iria atrapalhar. A velha guarda do Retiro foi uma das mais empolgadas do primeiro dia de desfiles.
União das Cores
Segunda escola da noite a levar a Bahia para avenida, a União das Cores apresentou o enredo "Sou feliz, ninguém mais feliz que eu. Bahia, o senhor do Bonfim me atendeu." Trazendo réplicas do Elevador Lacerda e do Farol de Itapuã, famosos cartões postais de Salvador, o carro abre-alas foi um dos mais altos da noite, com um destaque a mais de cinco metros de altura. E para dar vida ao enredo, a agremiação contou com cerca de 400 componentes divididos em 13 alas e acompanhados por três alegorias.
Na comissão de frente, os carnavalescos fizeram uma referência à miscigenação que marca origem do estado. Oito bailarinos, divididos entre índios, portugueses e escravos, e coordenados por James Melandre, pediam passagem para a escola que tem sede no Milho Branco. As baianas vieram para purificar o público, com uma referência à lavagem do Bonfim. Uma das alas mais irreverentes foi a que trazia os turistas que visitam o estado. Munidos de máquinas fotográficas de plástico, os integrantes fingiam tirar retratos da plateia.
Acadêmicos do Manoel Honório
A grande homenageada da noite não marcou presença na Passarela do Samba. A Lua - tema do samba-enredo da Acadêmicos do Manoel Honório - não podia ser vista no céu, mas segundo o carnavalesco Aloísio Costa, o satélite natural estava em eclipse. Antes da escola entrar na avenida, o clima era de tensão. Após o início do tempo regulamentar, os organizadores ainda corriam para deixar pronto o último carro, que tinha o vereador José Tarcísio Furtado (PTC) como destaque. Apesar de não ter levantado o público, que agitou pouco no primeiro dia de desfiles em todas as apresentações, a escola de samba do Manoel Honório fez uma bonita participação, sendo aplaudida em alguns momentos. O carro abre-alas, intitulado "São Jorge Guerreiro" era representado por um grande cavalo branco sobre um dragão. Em seguida, no Carro das Lendas, a caracterização de uma bruxa, que arrastava um grande calabouço, foi considerado por muitos o diferencial do desfile.
A rainha do carnaval de Juiz de Fora, Marcela Almeida dos Santos, precisou colocar, literalmente, os pés no chão durante a apresentação. A sandália arrebentou durante a apresentação da Acadêmicos do Manoel Honório mas, segundo ela, isso não era motivo para parar de sambar. "Só paro na Quarta-feira de Cinzas, quando coloco os pés para cima e relaxo." A agremiação do Manoel Honório desfilou no tempo regulamentar. Os cerca de 450 componentes, sendo 60 na bateria, foram divididos em oito alas, com 22 destaques.
Rivais da Primavera
A Rivais da Primavera, escola que tem o reduto em Benfica, na Zona Norte, entrou na avenida com o desafio de contar a história do café e sua importância para a cultura e economia do país. A pesquisa para transformar o tema em enredo demandou meses de pesquisa, conforme o carnavalesco Carlos Alberto Rachid, que também é autor do samba. Sem qualquer imprevisto na concentração, a Rivais da Primavera cumpriu o desfile dentro do tempo regulamentar.
O enredo "A saga do café em terras brasileiras" foi contado por meio de quatro carros alegóricos. O último, intitulado "Baluarte café", homenageava a velha guarda da escola. Os cerca de 600 componentes foram divididos em 13 alas, sendo 80 na bateria. Destaque para duas crianças, de 9 e 10 anos, responsáveis por tocar cavaquinho e acompanhar o intérprete Gê de Ogum, que também é um dos autores da música. A diversidade de cores das alas foi um diferencial, observado inclusive pelos foliões presentes na passarela.
Turunas do Riachuelo
Coube à Turunas do Riachuelo, primeira escola de samba a ser fundada em Minas Gerais, e a quarta no Brasil, encerrar o primeiro dia de desfiles em Juiz de Fora. Foi no samba enredo "A, E, I, O, Urca", uma reedição do carnaval de 1978, quando a agremiação foi campeã, que a comunidade depositou as esperanças para retornar ao grupo A, já no próximo ano. O desafio era contar na avenida a história da vida boêmia do Bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, entre as décadas de 30 e 40.
Os cerca de 400 componentes, entre eles 80 na bateria, entraram na avenida atrás de uma bonita e coreografada comissão de frente, que mesclava expressão corporal e interpretação a todo o momento para representar símbolos do bairro carioca. O público gostou e aplaudiu várias vezes. No primeiro casal de mestre sala e porta-bandeira estava a telefonista Ana Beatriz da Costa, 20 anos de idade e oito de carnaval. Exaltando muito as cores da agremiação, azul e branco, a Turunas colocou quatro carros alegóricos na passarela. O último, que representava os programas e auditório da extinta TV Tupi, tinha como um dos destaques um sósia do comunicador Chacrinha. O desfile terminou por volta de 3h50, e foi concluído sem estourar o tempo regulamentar (de 40 a 60 minutos).
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