A Dilma descobriu uma fórmula engenhosa de jogar para baixo do tapete os escândalos de seus ministros e fazê-los desaparecer, como num passe de mágica, das manchetes dos jornais. O método é simples, mas eficaz: os acusados de corrupção, expostos na mídia, são conduzidos à Comissão de Ética. Lá, eles têm os nomes e a vida vasculhados, passam por interrogatórios sigilosos e ficam durante muito tempo sob a vigilância dos olhares severos desses notáveis pensadores éticos do século XXI que compõem a comissão, responsáveis pelo destino das autoridades em cheque. Mas infelizmente, invariavelmente, o veredicto desses elegantes senhores, verdugos de papel, quase sempre é o mesmo: inocente.
A bola da vez agora é Ideli Salvatti, interlocutora do parlamento com o governo. A Comissão de Ética deu dez dias para que a ministra das Relações Institucionais explique o uso de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal para visitar obras e redutos eleitorais em Santa Catarina. A aeronave serve ao SAMU que ficou sem atender pacientes de emergência durante três dias, quando ocorreram 116 acidentes, com 63 feridos e dois morros no estado. Os voos da ministra foram descobertos pelo Correio Braziliense, único jornal do país a cobrar com insistência a responsabilidade do governo pelo descalabro da ministra petista.
Agora, a Comissão de Ética da Presidência da República anuncia que vai pedir explicações à ministra. As mesmas explicações que pediram também ao ministro da Indústria e Comercio, Fernando Pimentel, para inocentá-lo depois de calar a imprensa teimosa que o denunciava por receber indevidamente milhões da Federação das Indústrias de Minas Gerais sem justificar o trabalho realizado. Com exceção do ministro Carlos Lupi, acusado de organizar uma quadrilha dentro do Ministério do Trabalho quando esteve à frente da pasta, ninguém até hoje foi punido por esses senhores acima de qualquer suspeita.
Em um país sério, de governo responsável e ético, Ideli já estaria afastada do cargo púbico. Seria responsabilizada pela omissão de socorro às vítimas dos acidentes de trânsito e pela duas mortes, quando esteve visitando seus redutos eleitorais no helicóptero que, naquele momento, deveria estar salvando vidas. De cara, Ideli já teria que devolver aos cofres públicos o combustível usado para o passeio eleitoral, um crime menor mas que serviria de exemplo para estancar prováveis outras sangrias do dinheiro público em época eleitoral.
O mais grave também é que o governo mente para esconder as estripulias da ministra. A mentira é crime grave . Richard Nixon, nos Estados Unidos, e Fernando Collor, no Brasil, caíram porque foram flagrados mentindo. Para livrar a cara de Ideli, o Ministério da Justiça e o próprio ministério de Relações Institucionais mentiram ao dizer que o helicóptero “não é conveniado com o SAMU desde 2012”. A Secretaria de Saúde de Santa Catarina desmentiu o governo, dizendo que o convênio continua em vigor.
Mentiras, corrupção, mensalão vêm marcando o governo de Dilma. Felizmente, tudo indica que alguns de seus aliados petistas vão dormir na cadeia até o final deste mês porque mentiram. Mentiram à justiça quando negaram até o fim o desvio de milhões de reais dos cofres públicos. Por isso, ministra, não minta. Além de crime, mentir é muito feio e deselegante para uma ministra que tem a nobre missão da interlocução entre o governo e o parlamento.
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