Rio -  O Exército ainda não sabe o que provocou a explosão que matou o jovem Vinícius Figueira Benedcito Eugenio, de 21 anos, e feriu outros 10 alunos da Escola de Sargentos de Logística (EsSLog), na noite desta quarta-feira, no campo de instrução de Camboatá, na Vila Militar, em Deodoro, na Zona Oeste. Em entrevista coletiva concedida no início da tarde desta quinta-feira, o coronel Abílio Sizino de Lima Filho disse que apenas após a conclusão do inquérito, dentro de 40 dias, será possível identificar as causas do acidente.
Rosinaline Benedicto, Eliane Figueira e Roberto Pace, tios de Vinícius, estiveram no HCE | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
Rosinaline Benedicto (e), Eliane Figueira e Roberto Pace, tios de Vinícius, estiveram no Hospital Central do Exército | Foto: Alessandro Costa / Agência O Dia
"O artefato não poderia estar naquele local. Esse grupo não utiliza explosivos, apenas material para simulação. O acidente ocorreu em uma área onde o grupo se preparava para passar a noite, por volta das 21h. Eles haviam acendido uma fogueira e iriam preparar o jantar quando o artefato explodiu", afirmou.
De acordo com o militar, ainda não é possível identificar que tipo de artefato provocou a explosão. O coronel também informou que o acidente pode ter sido causado pelo acendimento da fogueira ou por um pisão. 
Sizino de Lima Filho ainda revelou que o último grupo a utilizar explosivos na área onde ocorreu o acidente era formado por homens do Centro de Instrução de Operações Especiais. Eles deixaram o local em 2011. O coronel disse, contudo, que sempre é realizada uma varredura de inspeção após treinamentos com artefatos. O enterro de Vinícius será realizado às 10h desta sexta-feira, no Cemitério do Caju, na Zona Norte.
Foto: Reprodução
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Em comunicado, o Exército lamentou o ocorrido e informou que dá todo o suporte aos familiares das vítimas.
Três feridos em estado grave
Três soldados estão internados em estado grave por conta da explosão. Tiago Fontinha Rodrigues, de 26 anos, que sofreu graves ferimentos no rosto, está no Hospital da Força Aérea, no Galeão.
Wellinton Santos de Souza, 21, e Weidson Amorim, 24, estão no Hospital Central do Exército, em Benfica, também em estado grave.
Sylvio Lourenço Ramires Bloise, Wemerson Alan Rodrigues Matos, Vinícius Eduardo Pansani, Willians Magalhães, Yuri Viegas Costa, todos de 23 anos, e Welliton de Souza Silva, 25, e Wiler Guimer, 22, foram levados para o Hospital Geral do Exército, em Deodoro, com ferimentos leves.  
'Ele era um menino de ouro', diz tia
Vinícius era morador de Nilópolis, na Baixada Fluminense. "Ele era um menino de ouro, estudioso e exemplar. Ainda não sabemos direito o que aconteceu", disse Eliane do Espírito Santo, tia do militar.
Parentes reclamam da falta de informações sobre o que causou o acidente que culminou na morte de Vinícius. "Não vou ficar lá dentro do hospital ouvindo psicólogo, bebendo cafezinho e água. Ninguém explicou até agora o que aconteceu com o meu sobrinho. Só soubemos que um cara mandou meu sobrinho mexer num artefato, mas esse cidadão não está aqui para dizer nada", completou Eliane. A mãe do rapaz sofre de trasnstorno bipolar e está medicada, em casa.
Campo usado em 2011

O oficial informou ainda que o campo de Camboatá foi usado pela última vez em 2011 pelo Centro de Instruções Especiais. “Após treinamentos, há sempre uma varredura na área”, explicou.

De acordo com ele, os alunos, divididos em grupos, tinham encerrado o expediente às 21h e armavam barraca ao redor de uma fogueira para preparar o que tinham conseguido caçar, quando aconteceu a explosão. Um dos sobreviventes contou a parentes de Vinícius que ele estaria batendo uma estaca no chão para fazer o acampamento. Segundo familiares, ele teria morrido com lesões e cortes profundos no pulmão e coração.

Vinícius com o pai e os três colegas que ainda estão em estado grave | Foto: Reprodução
Vinícius com o pai e os três colegas que ainda estão em estado grave | Foto: Reprodução
Segundo o Exército, dos feridos, Tiago Fontinha Rodrigues, 26, é o que mais inspira cuidados. Com graves queimaduras no rosto, ele foi internado no Hospital da Força Aérea, no Galeão. Além dele, também estão em estado grave Wellinton Santos de Souza, 21, e Weidson Amorim, 24, ambos internados no Hospital Central do Exército, em Benfica.

Sob efeito de remédio, mãe não acredita na tragédia

A mãe de Vinícius Eugênio, Márcia Eugênio, 39, está sob efeito de medicamentos. “Ela diz o tempo todo que Vinícius chegará sábado e que ela precisa fazer o bolo de cenoura que ele gostava”, contou Roselaine Figueira, 43, tia do rapaz. O pai, Célio Eugênio, 47, precisou ser amparado.

“Perdi o melhor presente que Deus tinha me dado. Nos casaríamos no final do ano”, lamentou, aos prantos, a enfermeira Silvana Oliveira, 21, noiva de Vinicius. Torcedor do Fluminense, ele era considerado por amigos como estudioso, determinado e brincalhão.

Seis mortos em menos de três anos

Este foi o sexto caso de morte, num período inferior a três anos, em áreas militares do Rio ou bem próxima delas. Em 15 de setembro de 2009, num aterro sanitário em Bangu, perto de quartel do Exército, dois catadores morreram após explosão de mina terrestre. As vítimas, os catadores Carlos Eduardo Chaves e Thiago de Lima Costa, morreram na hora. Eles tentavam desmontar o artefato para revender as peças quando houve a explosão.

Em março de 2010, Adonai Santos da Costa Júnior, 19 anos, era aluno do Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (Ciampa), em Campo Grande, e morreu durante treinamento, após parada cardiorrespiratória.

Em fevereiro de 2011, a terceiro-sargento aluna Daiane Pereira Fernandes, de 25 anos, morreu durante atividades do estágio básico de sargento técnico temporário em quartel do Exército em Gericinó. No hospital, teve a morte cerebral confirmada.

Em outubro passado, o cadete Renan Gama, de 23 anos, da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, passou mal durante exercícios de instrução e entrou em coma profundo. Acabou morrendo dois dias depois no Hospital Samer.