sexta-feira, 6 de abril de 2012

Favelas vizinhas recebem menos da metade dos investimentos do Alemão


Embora tenha sido tomado por forças de segurança junto com o Complexo do Alemão, em novembro de 2010, o Complexo da Penha recebe, em média, metade dos investimentos municipais do vizinho mais “famoso”. Desde o início da ocupação do Exército, foram injetados na região da Penha, compreendida pela Força de Pacificação, cerca de R$ 1.300 por pessoa. No mesmo período, a prefeitura disponibilizou para o Alemão montante que equivale a mais que o dobro desse, chegando a quase R$ 3.000 para cada morador. Os dados são do IPP (Instituto Pereira Passos).
Se considerado apenas o total de dinheiro aplicado, o investimento feito na Penha – R$ 242,8 milhões – supera o do Alemão – R$ 202,2 milhões. Mas, a disputa se torna desproporcional quando comparadas as populações de cada região. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de habitantes do Alemão - cerca de 69 mil - equivale a menos da metade do registrado na área da Penha ocupada pelo Exército – aproximadamente 189 mil.
Dentre as benfeitorias financiadas pelo município, o item denominado pelo IPP como Equipamentos Públicos é o que chama mais atenção. Apesar da esmagadora superioridade populacional, a Penha recebeu R$ 37,3 milhões para reformas de escolas, além da construção de três EDIs (Espaços de Desenvolvimento Infantil) e uma clínica da família.
Enquanto isso, o investimento no conjunto de favelas vizinho chegou a R$ 54,4 milhões – diferença de 46%. O dinheiro foi convertido na Vila Olímpica, oito EDIs, uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), reforma de três creches e de uma escola. Três clínicas da família também receberam parte da verba para realizar adaptações.
Morador da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, Marcos Rafael Coelho, de 30 anos, sentiu na pele a diferença entre os conjuntos de favelas. Em dezembro passado, enquanto fatiava uma peça de carne, o açougueiro fez um corte profundo na mão e precisou de paciência até ser medicado.
- Tentei ir no Hospital Getúlio Vargas, mas estava lotado demais. Então, andei uns 30 minutos até a clínica da família [na avenida Nossa Senhora da Penha]. Como também tinha muita gente, demorei mais de quatro horas para conseguir fazer o curativo e tomar os [oito] pontos. Só eu sei a dor que senti. Precisamos de pelo menos mais uma [clínica] dessa. E eu sei que ali no Alemão é bem melhor.
Segundo o IPP, os maiores investimentos em números absolutos foram feitos no projeto Morar Carioca, que recebeu R$ 143 milhões na Penha e R$ 138 milhões no Alemão.
Para a Penha, o dinheiro aplicado rendeu dois prédios residenciais com 18 apartamentos, um edifício e um centro comerciais, além da chamada Praça do Conhecimento – com cinema e módulo de inclusão digital. Já os moradores do Alemão foram beneficiados com cinema 3D, três centros comerciais, duas quadras esportivas e também um módulo de inclusão digital – com videoteca, biblioteca, laboratórios de informática e projeto de capacitação profissional para jovens.
O dinheiro municipal foi investido ainda em contenção de encostas e coleta de lixo. A Penha, porém, diferentemente do vizinho, não conta com uma base da Comlurb.
Procurada pelo R7, a prefeitura disse não ter condições de fazer um cálculo preciso a respeito das populações sob guarda das forças de segurança antes da divulgação da área abrangida pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que devem ser inauguradas em junho.
Moradores reclamam de serviços de água e luz
A auxiliar de enfermagem Raquel Laurindo Miranda, de 30 anos, esbanja simpatia, mas muda o tom do discurso quando fala de serviços como água e luz. Segundo ela, ambos têm sido problemas constantes no morro da Chatuba, na Penha, onde nasceu e foi criada.
- É só chover que acaba a luz. É incrível. Minha mãe vende sorvete e, no início de março, perdeu toda a mercadoria por causa disso. E a água é um problema também. Todo fim de semana falta. Ficamos até quatro ou cinco dias sem água.
Dona de uma mercearia na entrada da Vila Cruzeiro, Neiva Maria, de 52 anos, fica bem atenta a tudo, enquanto escuta seu radinho colocado ao lado da caixa registradora. Entre uma compra e outra, ela diz que já cansou de ouvir reclamações sobre “problemas básicos”.
- A gente fica aqui prestando atenção em tudo e o povo reclama. Eu não moro lá para dentro, mas moro perto. Se o meu serviço é ruim, imagina o deles. O pessoal fala mesmo que toda hora está sem água e sem luz. Outro dia uma menina chegou aqui e disse que o colégio dela estava sem água o dia todo. Comprou duas garrafas e foi embora.
A Light, concessionária responsável pelo fornecimento de energia, informou que, desde a ocupação do Exército, atua na região da Penha tentando fazer os reparos necessários. A empresa informou ainda que está realizando um diagnóstico para que seja concretizado o projeto de reforma da rede elétrica da área.
A Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) não se pronunciou sobre os problemas de abastecimento.

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